Your mind is playing tricks on you my dear
Dizem que descrever o sentimento de amor é complicado, mas tenho para mim que o de depressão é igualmente desafiante. Nunca consegui escrever sobre o primeiro e gostava de não ter conhecimento de causa para falar do segundo... mas tenho. E hoje precisei de escrever isto, como se fosse uma espécie de terapia. Para terem noção, é de madrugada e estou com a mesma música em loop enquanto procuro as melhores palavras para me explicar. Ao escrever sobre temas como estes, parece que nos exigem que sejamos quase poéticos e que se descreva tudo de forma bonita. Lamento que daqui não levem textos bonitos, mas sempre ficam com uma ideia da minha realidade, sem floreados.
Quem já viveu com depressão ou ansiedade poderá eventualmente identificar-se com este post, ou então não, Que somos todos diferentes e estas coisas não se manifestam necessariamente da mesma maneira. Então, afinal, como é que era comigo, quando estava deprimida?
Todos os dias, quando acordava, a primeira coisa que fazia era obrigar-me a dormir mais. Só o simples facto de abrir os olhos e sentir que tinha despertado deixava-me com uma dor imensa, não era fÃsica mas garanto que custava mais que bater com o dedo mindinho num canto de um móvel. Sentia uma pressão no peito como se o meu coração me estivesse a tentar rasgar a pele para fugir de dentro de mim para bem longe. Tinha um desânimo do tamanho do mundo. Na verdade, quase que me sentia desiludida por ter acordado. E era assim, embrulhada em lençóis e em más sensações, que me virava para o lado e tentava voltar ao sono, por o máximo de tempo que conseguisse. Dormir sempre foi o meu escape ao longo dos anos para não pensar em problemas, assim que adormecia não sentia nada, não lidava com nada.
Quando finalmente acordava de vez, era um acordar triste para uma vida vazia, sem objectivos. Uma vida tão pesada só pelo simples facto de existir. Sentia-me desfeita, em pedaços e, era assim que me levantava e aceitava que o meu cérebro, agora totalmente acordado, não me desse mais um minuto de descanso. Vivia uma ditadura na minha cabeça. Tinha os mesmo pensamentos non stop, absorta nas piores emoções. Estava completamente centrada em mim mesma e em tudo de mau que era a minha vida, sem capacidade de ver alegria em nada, nem nas mais pequenas coisas, sem conseguir pensar num futuro que não fosse ainda pior que o presente. Mesmo a sorrir, mesmo a fotografar para o blog, mesmo rodeada de pessoas, os meus pensamentos não me davam tréguas. Sentia-me presa, encurralada, numa pressão constante. Mas pressão de quê, porquê? Nem eu entendia na altura. Sentia que tinha que estar bem, que tinha que mudar o rumo das coisas, mas todos os dias eram iguais. Não me conseguia desligar do sentimento de ansiedade que pulsava no meu corpo a um ritmo tão acelerado como o do meu coração. Limitava-me a existir e, mesmo nisso, estava a fazer um péssimo trabalho. Sentia que o estado em que eu estava me ia matando aos poucos. De facto, um dos poucos pensamentos que me dava tranquilidade, era saber que podia morrer a qualquer altura, por qualquer acaso do destino, e que assim acabavam os meus dias de tristeza, de vaguear pela casa, escondida do mundo inteiro e, principalmente, de mim mesma. Deixei de me reconhecer. Perdi apetite, perdi peso, perdi cabelo, perdi a minha essência. Não conseguia parar de me perguntar: porquê? Como é que era possÃvel já ter lidado com problemas bem mais graves e como, no que me pareceu ter sido de repente, tinha chegado à quele estado?
Não me interpretem mal, sempre tive gente preocupada e atenta do meu lado, mas obviamente, sentia-me a pessoa mais sozinha à face da terra. Não queria tomar medicação porque achava que conseguia lidar com tudo sem isso, acreditava que isso era aceitar que era fraca e que não sabia encarar os problemas. Mas cheguei a um ponto em que não aguentei mais. Acabei por levantar as receitas de antidepressivos e, com eles conseguia, algumas vezes, no que parecia quase um milagre, ter alguma positividade e calma. Não conseguia sair de casa sem levar, pelo menos, um comigo na mala, para me sentir mais tranquila, porque entretanto eu já tinha lidado com os maiores ataques de ansiedade de sempre em público. Desde agorafobia, a taquicardia e ainda a, pura e simplesmente, chorar, do nada. E eu que sempre preferi ficar com o maior nó na garganta a deixar que me vissem chorar, vi-me a perder o controlo das minhas emoções. Mesmo com a ajuda dos calmantes, eu estava num constante estado de ansiedade. Sentia-me como uma bomba relógio que podia explodir a qualquer altura, em qualquer lugar. Tudo isto me deixava frustrada e até zangada, porque eu nunca tinha sido do género de pessoa que ficava a remoer problemas durante muito tempo, por isso, como era possÃvel agora estar a ter reacções que até então desconhecia em mim? Com qualquer problema, mais ou menos grave, se ficasse a pensar sobre isso durante 2 ou 3 dias já era muito. Havia sempre um dia em que eu acordava e simplesmente já não queria saber, já não ia perder mais tempo a pensar sobre algo que não me trazia nada de bom. Mas ali estava eu, a esperar mas sem esperança, pelo dia em que simplesmente acordasse e metesse tudo para trás das costas. Mas os meus pensamentos estavam ali encravados, não conseguia avançar, não conseguia sair desta espiral de negatividade.
Se nunca passaram por nada assim, tentem pensar num momento em que sentiram muito stress ou tristeza e, agora imaginem como seria só ter esse pensamento na vossa cabeça e essa sensação dentro de vocês. Imaginem o dia todo assim, desde o acordar ao deitar. Agora imaginem meses disto. Enquanto comiam, enquanto lavavam os dentes, enquanto viam tv, enquanto falavam com os vossos amigos, enquanto passeavam... SEMPRE. É algo muito difÃcil de conceber, eu mesma se lesse isto antes e me tentasse colocar nessa posição jamais ia ser capaz. Se calhar até ia achar uma parvoÃce, nós é que mandamos na nossa cabeça, não é?
Mas não é assim tão linear.
É horrÃvel viver desta forma. E passar por algo assim deixa-nos marcas. Eu durante a maior parte do tempo neguei que estava deprimida, mesmo depois da minha médica me ter feito o diagnóstico, achei que ela estava a ser exagerada. Ainda agora, muitas vezes, digo que era "só" ansiedade.
Mas, felizmente, estou muito melhor. Já me consigo abstrair bastante. mas lá está, tenho dias em que me sinto completamente em baixo e ansiosa de novo. Pode ser que um dia isto passe por completo ou se calhar vai-me calhar ter um dia ou outro assim. De qualquer das formas, sinto-me bem por estar a ultrapassar isto e sinto-me empenhada e focada para nunca mais cair num estado daqueles. A vida é demasiado curta e preciosa para perdermos tempo com stresses, sim, isto é um grande cliché e por consequência uma grande verdade também.
Se alguém estiver a passar por isto agora e está a ler este post, eu desejo muita força, agarrem-se ao que mais gostam e a tudo o que vos trouxer paz de espÃrito, lembrem-se que nada é para sempre e isto é só uma fase, além disso, se eu ultrapassei vocês também vão conseguir!
Keep your heart strong.
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