A minha mãe disse-me para não chatear ninguém com isto, então vim contar na Internet
É sábado à noite e as pessoas estão a divertir-se. Eu ia ser, supostamente, mais uma delas. Vesti-me, maquilhei-me e, quando ia dar um jeito no cabelo, a minha disposição alterou-se radicalmente. Mais falhas e cada vez mais visÃveis. O vestido de alças, sem costas, que estava a usar, agora já não me fazia sentir bonita, apenas me deixava incomodada, a sentir o cabelo a cair aos montes colando-se à minha pele, tornando-se incomodativo e formando autênticos rolos. Tem sido mesmo por causa disso que este Verão tenho usado mangas sempre que posso, fugindo de alças ou de roupas claras que façam notar mais os cabelos lá colados.
Mas hoje... hoje sentia-me uma pequena rebelde, estava calor e queria estrear o meu vestido e o cabelo que se danasse! Que caÃsse e me ficasse lá a fazer impressão, que eu ia estar pouco importada. Assim pensava eu. Mas... ver a minha imagem no espelho, ver o cabelo a cair desenfreado aos montes, isso deixou-me sem ar. Porquê? Afinal nem é novidade, eu sei que ele anda há mais de um mês assim, eu já tinha visto estas falhas, eu tenho vivido com isto. Mas há dias que custa. Porque não quero falar com ninguém, porque não quero dar uma seca a alguém sobre cabelos que caiem, porque ninguém gosta das pessoas tristes. Porque se a minha mãe me vê a chorar fica irritada e ralha comigo. E eu sei que ela ralha porque me quer ver a ser mais forte que isto e sabe que eu sou mais que isto. Mas há alturas em que não consigo. Na maior parte dos dias, embora incomodada com esta situação, tento pensar: que se lixe! Posso meter extensões, posso rapar, posso usar uma peruca, posso andar assim e tentar ignorar. Afinal não é só cabelo? Não é o que as pessoas me dizem?
Mas não, não é só cabelo. É a chatice de ir a médicos, fazer exames, perceber a causa. É não se descobrir imediatamente e continuar a cair. É tentar este produto e aquele outro que dizem ser óptimo. É ir a este dermatologista e a outro e esperar alguma simpatia, compaixão e ver zero disso. É um ciclo que não sei como e quando vai parar mas, até lá, manda a minha auto-estima para bem longe. É nem me conseguir ver de cabelo molhado, é evitar mexer-lhe porque são tantos os que ficam nas minhas mãos. É a minha mãe quando lhe toca ficar escandalizada e eu notar isso. É eu pensar: mas porquê?! E depois dizem-me: se calhar é nervos ou stress. E eu respondo que não me sentia stressada, que estava bem. E dizem: se calhar PENSAS que estás bem. É, de repente, ficar na dúvida: afinal o que é estar bem? Será que ando mesmo em constante estado de ansiedade e por estar habituada já nem o noto? Será que perdi a noção do que é estar mal ou estar bem? Será que está tudo parvo ou é de mim?
Não, não é só cabelo, é a parte principal da imagem de alguém. E o meu nunca foi sequer o meu ponto forte, mas pelo menos não caÃa e era saudável. Não me digam que é só cabelo quando, mesmo as pessoas que lidam com tratamentos lixados, como a quimioterapia, muitas vezes se vão abaixo por perderem o cabelo. Não é só cabelo. É saúde, é auto-estima, é confiança é a nossa identidade. E eu já não sei quem sou nem o que sinto.
5 comentários: